(Sabrina Souza)
Luísa
sempre foi uma menina tímida, daquelas estudiosas que sentavam na primeira
fileira. Nunca se permitiu sequer um deslize. Tinha TOC,
mania de perfeição, de deixar tudo no lugar, de falar na hora certa, de ensaiar
discursos, mas tremia na base na hora de enfrentar uma plateia na sua
frente. Sempre seguia os padrões pré-estabelecidos, fazia o que achava que
esperavam dela.
Não
mentia, nunca, mas pera aí todo mundo mente um pouco, quem disser que não já tá
mentindo. Na verdade Luísa mentia sim, quando escrevia. Escrever era uma de
suas paixões. O que não tinha coragem de soltar pela boca, despejava no papel. Todo
escritor é um mentiroso com licença poética pra mentir.
Dizem
por aí que quem bebe muito costuma esquecer de tudo depois. Ela não esqueceu de
nada..nenhum detalhe passou despercebido pela mente alcoolizada. Nunca tinha
bebido e naquela noite Luísa tomou um porre monumental, daqueles de chamar o
Raul.
Era
o seu Baile de Formatura, achou que podia fazer tudo..dançou a noite inteira, quando
sentiu dor nos pés tirou os sapatos, bebeu todas, fez discurso sem ensaio, beijou
um desconhecido, depois descobriu que era o irmão mais novo de um colega de classe.
Saiu
por um instante do salão. Voltou, olhou em volta, não reconhecia ninguém,
pensou que fosse o efeito do álcool, não era. Havia outro baile acontecendo no
salão ao lado. Quando percebeu seu engano simplesmente soltou uma gargalhada alta,
rindo de si mesma.
Voltou
para sua festa e tomou um susto, os colegas tinham ido embora e o baile acabado.
Sua vontade era a de encostar-se em algum cantinho e dormir. E foi isso que ela
fez. Sem perceber apagou ali mesmo. Passado algum tempo, sentiu seu ombro ser
levemente sacudido e uma voz firme que dizia: “moça acorda, a festa acabou,
precisamos limpar o salão”.
Ainda
tonta, Luísa se levantou e saiu, o dia havia amanhecido, com a vista ofuscada
pela claridade mal conseguia fixar os olhos em alguma coisa do lado de fora. Mesmo
desorientada conseguiu fazer sinal pra um taxi que, para sua sorte, passava no
local.
Ela
estava sozinha, havia perdido os sapatos, a echarpe do vestido emprestado da
irmã, a vergonha e até a direção da sua casa. Mas naquela noite ela se permitiu
fazer o que nunca tinha feito. Ousou e foi feliz! Do mais, virou história pra contar...
Já ouvi uma historia parecida...
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