23 de agosto de 2015

Cinderela às avessas...


(Sabrina Souza)

Luísa sempre foi uma menina tímida, daquelas estudiosas que sentavam na primeira fileira. Nunca se permitiu sequer um deslize. Tinha TOC, mania de perfeição, de deixar tudo no lugar, de falar na hora certa, de ensaiar discursos, mas tremia na base na hora de enfrentar uma plateia na sua frente. Sempre seguia os padrões pré-estabelecidos, fazia o que achava que esperavam dela.
Não mentia, nunca, mas pera aí todo mundo mente um pouco, quem disser que não já tá mentindo. Na verdade Luísa mentia sim, quando escrevia. Escrever era uma de suas paixões. O que não tinha coragem de soltar pela boca, despejava no papel. Todo escritor é um mentiroso com licença poética pra mentir.
Dizem por aí que quem bebe muito costuma esquecer de tudo depois. Ela não esqueceu de nada..nenhum detalhe passou despercebido pela mente alcoolizada. Nunca tinha bebido e naquela noite Luísa tomou um porre monumental, daqueles de chamar o Raul.
Era o seu Baile de Formatura, achou que podia fazer tudo..dançou a noite inteira, quando sentiu dor nos pés tirou os sapatos, bebeu todas, fez discurso sem ensaio, beijou um desconhecido, depois descobriu que era o irmão mais novo de um colega de classe.
Saiu por um instante do salão. Voltou, olhou em volta, não reconhecia ninguém, pensou que fosse o efeito do álcool, não era. Havia outro baile acontecendo no salão ao lado. Quando percebeu seu engano simplesmente soltou uma gargalhada alta, rindo de si mesma.
Voltou para sua festa e tomou um susto, os colegas tinham ido embora e o baile acabado. Sua vontade era a de encostar-se em algum cantinho e dormir. E foi isso que ela fez. Sem perceber apagou ali mesmo. Passado algum tempo, sentiu seu ombro ser levemente sacudido e uma voz firme que dizia: “moça acorda, a festa acabou, precisamos limpar o salão”.
Ainda tonta, Luísa se levantou e saiu, o dia havia amanhecido, com a vista ofuscada pela claridade mal conseguia fixar os olhos em alguma coisa do lado de fora. Mesmo desorientada conseguiu fazer sinal pra um taxi que, para sua sorte, passava no local.
Ela estava sozinha, havia perdido os sapatos, a echarpe do vestido emprestado da irmã, a vergonha e até a direção da sua casa. Mas naquela noite ela se permitiu fazer o que nunca tinha feito. Ousou e foi feliz! Do mais, virou história pra contar...



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