(Sabrina Souza)
Terminei de tomar meu café,
paguei a conta e ao sair da loja dei de cara não só com a última pessoa que
imaginaria encontrar, mas também com a primeira que eu não conseguia parar de
pensar. Estávamos a menos de meio metro de distância um do outro e as únicas
coisas que conseguia pensar eram: 1) Como fugir dali? 2) Como mandar o coração
desacelerar? 3) Como obrigar minhas pernas a pararem de bambear. Meu cérebro
ficou confuso, não falava coisa com coisa, gaguejava e aquele discurso ensaiado,
para o caso de encontrá-lo, não saía. Não sabia por que diabos aquilo
acontecia, mas estava acontecendo e eu não sabia como lidar.
Antes que eu conseguisse pronunciar um oi, ele me beijou
suavemente o rosto, me deu um abraço apertado, e um afago, meio desajeitado, no
cabelo. – Ai meu Deus, por que ele precisava ser tão interessante? Me
questiono.
Trocamos meia dúzia de palavras, ele perguntou pelos meus
pais, como andava a faculdade e, em tom de brincadeira, se eu já eu havia
perdido a minha terrível mania de falar sozinha. – Não! Ainda continuo pensando
alto e conversando comigo mesma. Respondi meio sem graça e dei de ombros. Ele
sorriu e de forma involuntária, suspirei.
Também perguntei dos seus pais, do
avô, recém-operado, e da irmã, que havia voltado de um intercâmbio na África do
Sul. – Estão todos bem e com saudades de você. Ele responde. E termina dizendo:
- Tenho que ir, quando puder, dá uma passada lá em casa pra visitar os velhos.
Fique bem, linda! Outro beijo, outro abraço, outro afago. Ele vai se afastando
aos poucos e me deixa ali meio estagnada, com o coração apertado, martelando
uma lembrança que não devia mais existir...em que momento nos demos conta de
que seria melhor assim?
Fiquei alguns dias meio pra baixo,
e sabia exatamente o motivo de estar assim, só não queria admitir pra mim mesma.
Não queria que um atestado de burrice fosse carimbado na minha cara. Não queria
admitir que mesmo depois de meses afastados meu coração – idiota - ressalto,
ainda batia por ele. Não é amor, nunca foi. Paixão, talvez.
Fato é que quando você está
relativamente bem, saindo com os amigos, vivendo a vida, buscando a felicidade,
ele reaparece do nada, num piscar de olhos na sua frente e toda a certeza que
você tinha na cabeça desaparece ali, tão rápido quanto o Usain Bolt atravessando
a pista dos 100m livres. Triste a constatação de que não mandamos no coração,
né?! Talvez seja exatamente por isso que é tão difícil quando ele insiste em
falar mais alto.
Um amor novo? Já tentei. Ocupar a
cabeça com o trabalho? Também! Tudo soa como um subterfúgio. Uma maneira de
tentar enganar minha mente, já que meu coração..ah! nessa matéria já repetiu de
ano duas vezes e não aprende, viu.. deixa pra lá.
Eu preciso aprender a não entrar aonde
não me cabe mais. Aprender que pessoas vêm e vão e que ele se foi pra nunca
mais voltar. Aprender com o amor e, principalmente, com a falta dele. E
aprender que seguir em frente não é só uma escolha, mas a única opção possível.