26 de março de 2016

Em que momento nos demos conta de que seria melhor assim?

(Sabrina Souza)



Terminei de tomar meu café, paguei a conta e ao sair da loja dei de cara não só com a última pessoa que imaginaria encontrar, mas também com a primeira que eu não conseguia parar de pensar. Estávamos a menos de meio metro de distância um do outro e as únicas coisas que conseguia pensar eram: 1) Como fugir dali? 2) Como mandar o coração desacelerar? 3) Como obrigar minhas pernas a pararem de bambear. Meu cérebro ficou confuso, não falava coisa com coisa, gaguejava e aquele discurso ensaiado, para o caso de encontrá-lo, não saía. Não sabia por que diabos aquilo acontecia, mas estava acontecendo e eu não sabia como lidar.

Antes que eu conseguisse pronunciar um oi, ele me beijou suavemente o rosto, me deu um abraço apertado, e um afago, meio desajeitado, no cabelo. – Ai meu Deus, por que ele precisava ser tão interessante? Me questiono.

Trocamos meia dúzia de palavras, ele perguntou pelos meus pais, como andava a faculdade e, em tom de brincadeira, se eu já eu havia perdido a minha terrível mania de falar sozinha. – Não! Ainda continuo pensando alto e conversando comigo mesma. Respondi meio sem graça e dei de ombros. Ele sorriu e de forma involuntária, suspirei.

Também perguntei dos seus pais, do avô, recém-operado, e da irmã, que havia voltado de um intercâmbio na África do Sul. – Estão todos bem e com saudades de você. Ele responde. E termina dizendo: - Tenho que ir, quando puder, dá uma passada lá em casa pra visitar os velhos. Fique bem, linda! Outro beijo, outro abraço, outro afago. Ele vai se afastando aos poucos e me deixa ali meio estagnada, com o coração apertado, martelando uma lembrança que não devia mais existir...em que momento nos demos conta de que seria melhor assim?

Fiquei alguns dias meio pra baixo, e sabia exatamente o motivo de estar assim, só não queria admitir pra mim mesma. Não queria que um atestado de burrice fosse carimbado na minha cara. Não queria admitir que mesmo depois de meses afastados meu coração – idiota - ressalto, ainda batia por ele. Não é amor, nunca foi. Paixão, talvez.

Fato é que quando você está relativamente bem, saindo com os amigos, vivendo a vida, buscando a felicidade, ele reaparece do nada, num piscar de olhos na sua frente e toda a certeza que você tinha na cabeça desaparece ali, tão rápido quanto o Usain Bolt atravessando a pista dos 100m livres. Triste a constatação de que não mandamos no coração, né?! Talvez seja exatamente por isso que é tão difícil quando ele insiste em falar mais alto.

Um amor novo? Já tentei. Ocupar a cabeça com o trabalho? Também! Tudo soa como um subterfúgio. Uma maneira de tentar enganar minha mente, já que meu coração..ah! nessa matéria já repetiu de ano duas vezes e não aprende, viu.. deixa pra lá.

Eu preciso aprender a não entrar aonde não me cabe mais. Aprender que pessoas vêm e vão e que ele se foi pra nunca mais voltar. Aprender com o amor e, principalmente, com a falta dele. E aprender que seguir em frente não é só uma escolha, mas a única opção possível.